domingo, 8 de março de 2020

Naufrágios

“… E quanto à dor, você vai descobrir que ela vem em ondas.  Quando o navio acaba de naufragar, você está se afogando com todos os destroços a sua volta. Tudo que está boiando ao seu redor te faz lembrar da beleza e do esplendor que o navio era e que não é mais.  E a única coisa que você consegue fazer é boiar.  Você vai encontrar algum pedaço de destroços e vai se segurar nele por um tempo. Talvez seja alguma coisa física.  Talvez seja uma lembrança de um momento feliz ou uma fotografia.  Talvez seja outra pessoa que também está boiando.  Por um tempo, a única coisa que você consegue fazer é boiar.  Ficar vivo.
No começo, as ondas tem 30 metros de altura e se abatem sobre você sem piedade.  Elas vêm de dez em dez segundos e você nem tempo de recuperar o fôlego. Tudo o que você consegue fazer é se segurar e boiar.  Depois de um tempo, às vezes semanas, às vezes meses, você vai descobrir que as ondas ainda têm 30 metros de altura, mas vêm em intervalos maiores.  Quando ela vêm, ainda te abate e te derruba. Mas nos intervalos, você consegue respirar, consegue funcionar. Você nunca sabe o que vai desencadear a dor.  Pode ser uma música, uma imagem, uma esquina, o cheiro de uma xícara de café.  Pode ser qualquer coisa… e a onda vem.  Mas entre as ondas, há vida.
Algum tempo depois, e o tempo é diferente para cada um de nós, você vai ver que as ondas têm apenas 20 metros de altura. Ou 10. E, embora elas ainda venham, demoram mais para chegar. E você as vê chegando.  Uma comemoração, um aniversário, Natal, ou o retorno a algum lugar. Você quase sempre pode vê-la chegando e se preparar para ela. E quando ela vem e te cobre, você sabe que de alguma forma, você vai sair novamente do outro lado. Ensopado, sem respirar direito, ainda pendurado a algum pedacinho de destroços, mas você vai sair.
As ondas nunca param de vir e, na verdade, você nem vai querer que elas parem. Mas você aprende a sobreviver a elas. E outras ondas virão. E você sobreviverá a elas também. E se você tiver sorte, você terá muitas cicatrizes e muitos amores. E muitos naufrágios.“ 
(autor desconhecido)




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