Quando se é mãe solteira, assumir um novo relacionamento é complicado.
Temos o nosso período de idiotice: uma esperança estúpida de que o pai da criança apareça arrependido por ter visto que perderia muita coisa se resolvesse se ausentar.
Depois, começamos a assimilar a realidade: ele não vai aparecer. E, daí, vem a dor. Dessas que nada consegue fazer parar.
Então, depois de meses, decidimos erguer a cabeça e seguir em frente, mas ainda é difícil pensar em ter outro relacionamento: “p***, sofri pra c****** com o último, então por que ter vontade de arranjar outro homem correndo o risco de ser outro canalha?”
Daí, aparece alguém. Uma pessoa que adora seu filho e te ama, mas você resolve dar o fora nele. Muitas vezes. Por quê? Medo.
Medo de te julgarem. Medo do filho acabar se apegando àquela pessoa e, se o relacionamento acabar, ele acabar sofrendo, como se já não bastasse a dor que ele terá que enfrentar por ter um pai que não quis assumí-lo. Medo de falarem que você não presta ou que é burra porque você é mãe solteira e resolveu ter outro namorado. Medo de estar sendo iludida de novo. Medo de convencerem aquela pessoa de que namorar uma mãe solteira é um erro. Então, você recusa, porque, diferente do que muitos idiotas por aí acham, mães solteiras não são mulheres desesperadas para acharem um homem que queira casar com elas por piedade.
Depois de um tempo, você supera isso e vê que aquela pessoa insistente é legal. E resolve dar uma chance.
Então, ela se mostra a pessoa mais apaixonada do mundo. Por você e pelo bebê. Ela cuida do seu filho melhor do que você já sonhou até com o pai biológico da criança na época da falsa esperança: ela dá banho, troca fralda, faz mamadeira, brinca, compra coisinhas, insiste em ensinar o bebê a falar primeiro “papai” ao invés de “mamãe” e sai falando dele por aí como se o filho fosse dele desde o começo, todo orgulhoso, anunciando o que a criança aprendeu a fazer no dia anterior ou contando alguma coisa engraçada que ela fez. Como um pai deveria ser.
Então, você resolve assumir publicamente o relacionamento e, daí, chovem as perguntas. A maioria, ofensivas: “você tá com ele porque ele é rico?”, “você resolveu ficar com ele porque acha que não arranjaria ninguém melhor?”, “ele vai substituir o xxxx?”.
Pacientemente, você responde: “não, não tô com ele por causa de dinheiro”, “não, é porque eu acho que ele é a melhor pessoa para estar comigo e com o meu filho”, “como ele poderia substituir um pai que nunca esteve presente?”.
O pior é quando uma pessoa descobre que o seu namorado não é mais rico do que você e que ele não é tão bonito assim e, daí, resolve perguntar:
- Se ele não tá sustentando você e o seu filho e se ele nem é bonito, então, por que você tá com ele?
- Porque ele ama o meu filho e me ama também.
- Ah, tá… - e ela faz aquela careta estranha, quase como se dissesse “você é burra ou o quê?”.
Daí, eu lembro daqueles contos de fada. Aqueles que tentavam ensinar a gente a não amar uma pessoa por causa da aparência ou do dinheiro. Aqueles que diziam que as pessoas que amam superam as diferenças e conseguem ser felizes, independente da dificuldade.
Fico me perguntando: será que as pessoas acham que mães solteiras não merecem um amor assim ou que elas não são capazes de amar de verdade? Ou será que elas deixaram de acreditar no amor (deixando-o restrito a contos de fada e filmes bonitinhos, como se fosse tão fictício quanto seus personagens)?
Texto da Yumi Shimada *